Governo são-tomense afasta indícios de branqueamento de dinheiro russo
- 05/02/2025
"À partida não há indícios que possa ter havido esse tipo de ações, por isso nós vamos fazer o nosso trabalho de averiguação", disse à Lusa o ministro de Estado, Economia e Finanças de São Tomé e Príncipe, Gareth Guadalupe.
Em causa estão declarações feitas pelo comentador da SIC José Milhazes durante o espaço de comentário Guerra Fria, na terça-feira, em que afirmou que "de forma muito discreta São Tomé e Príncipe está a se transformar num lugar de branqueamento/lavagem de dinheiro russo".
José Milhazes referiu-se a informações publicadas no Telegram por páginas russas "bastante bem informadas".
O comentador referiu que os bancos russos VTB e GazpromBank estão a utilizar dois bancos em São Tomé - o Banco Internacional de São Tomé e Príncipe (BISTP) e o Banco Equador -, comprando ações, através de pessoas de confiança e de altos executivos, "para escapar às sanções" europeias à Rússia "permitindo ocultar a presença real de bancos russos em São Tomé".
"Há toda uma série de intermediários, que ganham grandes comissões, comissões chorudas [..] são principalmente os dirigentes dos bancos, os gerentes dos bancos que estão a ganhar com este esquema e não os bancos em si", referiu o comentador, defendendo que "a União Europeia tem que estar atenta a esta e a outras violações que são diariamente denunciadas pela imprensa internacional".
São acionistas do BISTP o Estado são-tomense com 48%, a Caixa Geral de Depósitos com 27% e o Banco Angolano de Investimentos com 25%.
Quanto ao Banco Equador, o ministro de Estado, Economia e Finanças de São Tomé e Príncipe assegurou que "está comprovadamente liquidado".
O Governante são-tomense disse que está em contacto com as instituições financeiras como o Banco Central, que faz a supervisão financeira, o Ministério Público, a Polícia Judiciária, e também a Unidade de Informação Financeira (WIF, na sigla inglesa) para a averiguação do assunto.
Gareth Guadalupe enfatizou que os últimos relatórios do Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI) e do Grupo Intergovernamental de Ação contra o Branqueamento de Dinheiro (GIABA) não indicam que o arquipélago esteja "tão mal para que haja esses tipos de ações", tendo, no entanto, insistido que é preciso fazer "esse trabalho de averiguação".
Além disso, referiu que São Tomé e Príncipe tem em vigor a lei contra o branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, "que ainda continua atualizada para aquilo que são estes tipos de ações hoje em dia".
"Nós vamos fazer os nossos trabalhos de casa e esperemos que essa informação seja mais rapidamente esclarecida porque nós queremos continuar a manter a nossa reputação como um país de estabilidade financeira, como um país de integridade, como um país de transparência ou nível do sistema financeiro", sublinhou Gareth Guadalupe.
O governante são-tomense disse esperar "contar com a ajuda do Ministério Público de Portugal e também da PJ portuguesa" para o esclarecimento do assunto.
No entanto, Gareth Guadalupe adiantou que se não forem comprovadas as declarações do comentador da SIC, "as medidas terão que ser tomadas" e "o prevaricador terá que ser punido porque está em causa a imagem do país e nada está em cima dos interesses superiores do Estado de São Tomé e Príncipe".
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