Imigrantes ilegais a chegar a Guantánamo, símbolo do "racismo e tortura"
- 05/02/2025
Duas semanas depois de ter tomado posse como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já mexeu com muitas aéreas, nomeadamente com a imigração. Esta terça-feira a porta-voz da Casa Branca deu conta de que os primeiros voos de imigrantes irregulares para o centro de detenção Guantánamo, em Cuba, já começaram - e esta é uma medida, e localização, criticada.
Guantánamo já fez várias manchetes, nomeadamente, pelas acusações de situações de más condições e tortura em que os detidos se encontram.
O local é uma base militar para Washington há mais de 20 anos, e conhecido por já ter acolhido centenas de prisioneiros acusados de terrorismo, incluindo alguns membros da al-Qaeda.
Trump planeia manter na base de Guantánamo cerca de 30.000 pessoas e, nesse sentido, mais de 150 militares norte-americanos chegaram segunda-feira à base naval para preparar a ampliação do centro de detenção para imigrantes sem documentos.
O Serviço de Imigração e Alfândegas gere, há décadas, um centro de detenção de imigrantes na base militar da Baía de Guantánamo, separadamente da prisão para suspeitos de terrorismo - a prisão de Guantánamo e a Base Naval de Guantánamo são anexas.
Mas que prisão é esta?
Guantánamo tornou-se mais conhecida durante a campanha criada por George W. Bush após os ataques de 11 de Setembro, campanha esta denominada por 'Guerra ao terror'. A prisão foi estabelecida em 2002 para receber suspeitos de terrorismo e supostos combatentes "ilegais" detidos durante operações militares americanas fora dos EUA. O local recebeu cerca de 780 presos desde sua criação, havendo 15 pessoas que continuam detidas lá.
Vários grupos de direitos humanos e reportagens deram conta dos casos de tortura que se terão passado no local, com, por exemplo, a prática de 'waterboarding' ou chamado 'afogamento simulado' - que tal como o nome indica consiste em que a cabeça do sujeito seja colocada dentro de água até que este quase se afogue.
"A decisão de Trump de utilizar Guantánamo - símbolo global e local de ilegalidade, tortura e racismo - para alojar imigrantes deveria horrorizar-nos a todos", afirmou Vince Warren, diretor executivo do Centro para os Direitos Constitucionais, em comunicado citado pela CNN Internacional.
"Como muitos dos ataques autoritários de Trump aos direitos humanos, este tem precedentes vergonhosos na história dos EUA. Muito antes de a segunda administração Bush ter utilizado as instalações para deter e abusar de cerca de 800 homens e rapazes muçulmanos como parte da sua 'guerra contra o terrorismo', a primeira administração Bush deteve refugiados haitianos para tentar negar-lhes os seus direitos ao abrigo do direito internacional".
Segundo a imprensa, cerca de dez pessoas morreram nas instalações e as centenas que foram lá parar são originárias de 48 países.
O anúncio
O anúncio de que a sua administração ia levar pessoas até Guantánamo surgiu durante uma cerimónia na Casa Branca. Nos últimos 15 dias, já foram deportadas pessoas que estavam nos EUA para países como Guatemala, Peru, Honduras e Índia.
"Temos 30.000 camas em Guantánamo para deter os piores criminosos estrangeiros ilegais que ameaçam o povo americano", referiu Trump quando anunciou as suas intenções.
"Alguns deles são tão maus que nem sequer confiamos nos países que os detêm, porque não queremos que regressem [...]. Por isso, vamos mandá-los para Guantánamo. Isto vai duplicar imediatamente a nossa capacidade, certo? E é difícil. É um sítio difícil - é um sítio difícil de sair", atirou.
Uma próxima do processo contou à CNN Internacional que as instalações do centro de detenção até poderiam acomodar cerca de 30 mil pessoas nos anos 90, mas que agora seriam precisos mais funcionários para manter tantas pessoas lá.
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